Reflexão - vida de pós formado
Olá!
Tenho visto muitas discussões (bendito algoritmo das redes sociais) de páginas voltada para conteúdo médico sobre o aumento das vagas para medicina, concorrência e importância do RQE (título de especialista) e pensei muito sobre o assunto e a conclusão que cheguei é que muitos tentam generalizar o assunto e botam um ponto final em que o único caminho aceitável é de terminar a faculdade e entrar direto na residência.
De fato, a especialização é fundamental na carreira médica de longo prazo e entendo que a melhor forma de chegar nisso é através da RESIDÊNCIA MÉDICA e não essas pós graduação EAD/hibrida que muitos estão fazendo e, pior ainda, alguns se autointitulando especialista. Vim um recém formado colocando no instagram que era especialista e subespecialista de uma área, ex: psiquiatria infantil (nem era essa) mas com um título que se levaria, no mínimo 6 anos para obter, tempo de outra faculdade e o malandro me coloca na bio do perfil profissional dele e tem nem 06 meses que formou como MÉDICO GENERALISTA. Deve ter se matriculado numa pós qualquer, nem terminou e já ta atendendo com especialista- Alô CFM!!!
Feito o desabafo, vem a reflexão. assim como eu, acho que nesse momento tem vários novos médico se formando que não vem de família rica graças as cotas para alunos provenientes de colégio público e, fica a observação, durante a faculdade as notas e desempenho dos colegas vindos de cota e de particular eram parelhas e quando em muitos casos, maiores. Enfim, esse acesso ao ensino superior via cotas, no meu entendimento, foi fundamental para quebrar algumas barreiras financeiras e socias e escancarou o quanto nosso país é desigual.
Dentro de uma mesma sala de aula tinham estudantes que os pais, tios, avós eram médicos já conhecidos e renomados, filhos do agro, de políticos, da burguesia e também filhos de militares - oficiais ou não, faxineiros, produto rural familiar, pais desempregados. Muitos alunos dependiam de bolsa família e programas de auxílio da universidade para se manter (amém bandeijão!!)
Nesse contexto, me via entre os 2 lados, entre ricos e pobres, vinha de família humilde, mãe dona de casa e pai servidor público endividado (malditos empréstimos consignados...). Cresci sem muito luxo, nunca me faltou o básico. Férias, em casa, jogando bola na rua descalço. Viagem só fui conhecer quando sai de casa para fazer faculdade. Um sonho, uma aprovação, uma passagem de onibus e um vai com Deus, meu filho! Boa sorte e até natal (se conseguir juntar dinheiro para a passagem de volta)
Faculdade, resumidamente, 6 anos e alguns meses, atraso da pandemia =( ! Anos de muito estudo e abdicação, aniversários, feriados e momentos longe da família em busca do sonho e da melhoria de vida. Só quem passou por algo parecido entende a dor de ver os avós envelhecendo, os pais perdendo um pouco da energia que tinham, primos, sobrinhos crescendo sem sua presença. E assim a vida vai passando, amigos vão ficando pelo caminho e parentes vão adoecendo. E depois desses 6 anos longe de tudo e todos, vem o diploma, o primeiro emprego, o primeiro salário... a possibilidade de começar a quitar as dividas, de ter mais qualidade de vida e poder ter momentos com a família de novo.
Entendo quem já vá de cara para a residência, o RQE é importantíssimo, mas não da para generalizar, Cada um tem sua história, suas demandas e sabe onde o calo aperta. A bolsa da residência não condiz com o trabalho empregado e poder trabalhar um pouco antes é a possibilidade de amadurecer também, poder fazer uma viagem, limpar o nome! Ajudar os avós agora mais fragilizados, os pais endividados, poder voltar e rever os amigos, os familiares e ver, de perto, como o tempo passou.
Os amigos, antes com 17,18 anos... agora já casando, alguns com filhos. Os encontros que eram para falar bobagem e jogar futebol, agora são um jantar e falar sobre casa própria, como criar os filhos. Os avós, antes higidos, com energia ainda, agora já mostram os sinais dos 70 chegando, uma dor aqui outra ali, a pressão ta alta, vem o cansaço, a falta de ar. Uma cirurgia de emergência, umas noites em UTI. Um cuidador para pagar, um fisioterapeuta...
Enfim, a escolha de cada um é individual. Uns já entraram na faculdade com carro 0km (de kwid, up até Corola, Cretta, Tucson...), medcurso pago, a academia em dia, um bom plano de saúde... recursos proveniente do dinheiro familiar, geracional.. E aqui é uma crítica a desigualdade no nosso país, não invejo mas quem teve a vida facilitada por conta disso, inclusive, me enchi de felicidade quando alguns amigos mais abastados conseguiram passar nas residências desejadas, em instituições renomadas no Brasil e no exterior... Mas os caminhos são diferentes, os pontos de partida são diferentes. Não tem como no final, ter as mesmas escolhas. Eu escolhi esperar kkk Trabalhar, ajudar os meus, quitar minhas dívidas, fazer minha "poupança". Quem sabe entrar na residência posteriormente com uma renda passiva gordinha.
Já falei demais, muitos devaneios. Esse texto foi só uma reflexão, é bom botar os pensamentos para fora... quero influenciar ninguém, até pq ninguém ta lendo isso aqui e caso leia algum dia e faça sentido, ok, se discordar ok também...
Até!
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